terça-feira, 24 de abril de 2012

A subversão dos valores humanos


Cristo ao longo de seu ministério subverteu as ordens religiosas e morais vigentes em seu tempo. Ele virou de cabeça para baixo tudo o que era tido como valoroso diante dos homens, mas que para Deus não passava de aparência piedosa vestida de mandamento divino. Os judeus do tempo de Cristo estavam comprometidos com a “religião da figueira”. Como no episodio em que Jesus quando ia para Jerusalém saindo de Betânia Ele teve fome e viu ao longe uma figueira cheia de folhas, então deduziu que ela deveria esta lotada de frutos, pois a figueira produz os frutos antes de florescer sua folhagem, porem Ele não encontrou nada, a figueira era um simulacro, uma simulação religiosa, fingia ter o que realmente não tinha. Assim também eram os escribas e fariseus que viviam de uma aparência piedosa, buscando esconder o vazio interior e sua nudez existencial, mascarados por sua religiosidade a qual negava o Verdadeiro Deus, fazendo de si mesmos seu deus.

Porem esse subterfúgio não foi uma invenção dos religiosos judeus, pois desde o principio da criação do mundo ela, a religião da folha de figueira, manifestou sua face hipócrita. E foi o primeiro homem, Adão quem fez uso desse artifício humano, quando após ter pecado cozeu para si folhas de figueira como veste, querendo assim esconder a nudez de seu corpo e agora de sua alma. A folha de figueira é usada aqui como uma alegoria, uma figura de linguagem, é a representação da mais sublime tentativa humana de se esconder de Deus e, de se alto justificar perante Ele, assim como fez Adão após o pecado, escondendo-se atrás das arvores.

Tomando aqui emprestada um trecho da dogmática do teólogo suíço, Emil Brunner, que afirma:

“A primeira conseqüência da Queda, na historia da Queda, é esta: que o homem tenta se ocultar de Deus. Toda a religião humana fora da revelação particular caracteriza-se por este esforço para se ocultar de Deus; de fato, não apenas toda religião, mas a vida do pecador como um todo traz esta marca”  p. 168


 Sendo assim podemos afirmar que até mesmo as produções cientifica são facetas do fruto do conhecimento do bem e do mal e da religião das folhas de figueira, pois estas praticas não muito diferentes das manifestações religiosas fazem uso das folhas de figueira, porem por meio do fruto do conhecimento do bem e do mal, e o pior é que, estes só não se escondem de Deus, mas pretensiosamente querem tomar o lugar de Deus em justificar a si mesmos como homens-deuses por intermédio de suas razões. Pois para a ciência o conhecimento é a base de toda a verdade, sendo as folhas de figueira sua produção por excelência.
O único problema tanto da veste quanto da mascara fruto das folhas de figueira, sejam estas da religião ou da ciência é, que diante de Deus nada esta oculto, escondido, mas ao contrario, todas as coisas estão patentes, desnudadas, desveladas perante os olhos Daquele que a tudo penetra. Hebreus 4:13.

Por isso Cristo tantas vezes reprovou as atitudes dos escribas e fariseus, que sempre zelavam mais pelas as aparências, do que pelo conteúdo. Suas ações eram feitas com a intenção de trazer os holofotes sobre si e não de glorificarem a Deus.
Hoje em dia esse mesmo espírito, essa mesma cultura das folhas da figueira é dominante em nosso meio. Ela tomou nova cor, nova cara, tem muitos nomes: campanha, sacrifício, evangélico, mas continua sendo um poderoso artifício humano tanto para se esconder de Deus quanto para tomar seu lugar na mente e no coração da humanidade.
É por isso que Cristo sempre exortava seus ouvintes a conhecerem a si mesmos, a partir de dentro e não a partir das externalidades das aparências piedosas, como segue abaixo: Lucas 11:37-41.


Acabando Jesus de falar, um fariseu o convidou para almoçar com ele; e havendo Jesus entrado, reclinou-se à mesa. O fariseu admirou-se, vendo que ele não se lavara antes de almoçar. Ao que o Senhor lhe disse: Ora vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade. Loucos! quem fez o exterior, não fez também o interior? Dai, porém, de esmola o que está dentro do copo e do prato, e eis que todas as coisas vos serão limpas.”

 Podemos até cobrir nossa nudez com as folhas da figueira, mas jamais ocultaremos de Deus a nudez de nossa alma.




A antítese dos valores humanos


O sermão do monte pode de fato nos servir de exemplo para embasar a construção de uma antítese dos valores do mundo, assim como o próprio Cristo proclamou para os religiosos moralistas de sua época a falência inexorável de tais valores humanos perante Deus. Pois Cristo deixou bem claro para eles que tudo aquilo que de alguma forma era tido como possuindo valor para os religiosos, Ele pôs abaixo perante seus ouvintes, como nos mostra o relato de Lucaas;

“vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações: porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é coisa abominável, execrável, repulsiva” Lucas 16:1.

Aquilo que tinha valor para eles, não passava de excremento e latrina para Deus.
Por este motivo Cristo tanto os censurou de forma tão severa, tentando fazer com que eles enxergassem a nudez existencial de suas almas, mas eles estavam cegos para perceberem a desgraça em que se encontravam. Assim é também agora com nossa geração que em sua busca insaciável por felicidade, lucro, status, sucesso e  fama como forma de auto-afirmação pessoal, que tem como conseqüência direta a auto-justificação de seus objetivos hedonistas, onde os fins justificam os meios, não importando o preço a se pagar para alcançar seus anseios egolatras. Infelizmente essa mentalidade esta profundamente arraigada no mundo, tanto quanto nos círculos fechados da igreja evangélica, que na maioria das vezes se pensa impenetrável por esse tipo de influencia, à da religião das folhas de figueira e de seus frutos racionalistas do bem e do mal, mas que na maioria das vezes ela é sua maior consumidora e proliferadora desses valores.

A igreja evangélica, como os fariseus e escribas, tanto come desse fruto como usa as folhas dessa arvore para se cobrir, exemplo disso são, suas campanhas, suas ofertas, seus cultos, seus shows gospel, que na maioria das vezes são usados como forma de autojustifcação e não como serviço abnegado para Deus. Desta forma  isso representa a mais alta rebelião contra Deus, pois auto-justificação é idolatria de si mesmo, porque se põe em pé de igualdade com Deus que é o único capaz de justificar o homem por intermédio da fé em Cristo Jesus. Como o próprio Jesus dizia aos religiosos que se achavam melhores que os demais homens, porque guardavam a lei e cumpriam os mandamentos ao pé da letra condenavam todos os que assim não procediam. Eles se auto-justificavam diante de Deus, isso esta explicito no relato de Lucas 18:9-14.

 “Propôs também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo para orar; um fariseu, e o outro publicano. O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo: ó Deus, graças te dou que não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda com este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho. Mas o publicano, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ó Deus, sê propício a mim, o pecador. Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado; mas o que a si mesmo se humilhar será exaltado.”

Nessa parábola fica claro para nós a forma como os fariseus faziam uso da lei e da justiça que desta procedia. Eles por guardarem a lei se achavam como juízes de seus semelhantes, os quais não agiam em conformidade com eles. Quero também lhes propor uma comparação, para pensarmos juntos sobre a lei e sua justiça e o fruto do conhecimento do bem e do mal e as folhas da figueira, não como sendo opostos, mas sim como sendo dois lados de uma mesma moeda. Primeiro é necessário dizer que de certa forma, a lei e sua justiça são comparáveis aos rudimentos desse mundo, assim como afirma Paulo na epistola aos Gálatas, e do outro lado o conhecimento do bem e do mal, como base de toda produção humana, e esta nem precisa de defesa, pois qualquer um no meio cristão sabe e concorda com isso.  Sendo assim proponho olharmos para o principio da existência humana.

Na historia da queda podemos observar que a conseqüência imediata desta, após o homem ter comido do fruto do bem e do mal foi a priori um falso conhecimento de si mesmo e, como efeito deste, a posteriori um falso conhecimento de Deus. E, porque primeiro um falso conhecimento do homem e não primeiramente de Deus? Por que a primeira coisa que o homem percebeu após o pecado foi a si mesmo, e percebeu a si mesmo nu. Assim como diz Dietrich Bonhoeffer em sua Ética.
Em lugar de Deus, o ser humano enxerga a si mesmo. “E abriram-lhes os olhos”  O ser humano só pode chegar ao autoconhecimento a partir do conhecimento de Deus. Porém o inverso não é possível, pois a afirmação de que podemos conhecer a Deus, conhecendo a nós mesmos é a raiz de toda a idolatria pretensiosa de ser igual a Deus. Antes da queda o homem tinha sua consciência determinada por Deus, e tudo o que ele sabia, o sabia a partir de Deus. A medida da consciência do homem era Deus, assim como a medida de julgamento do homem também era Deus, mas após o pecado, após ele ter comido do fruto da arvore do bem e do mal, o homem se tornou a medida de si mesmo, o ego agora é o centro do seu ser.  A partir desse momento o ser humano é a única medida de julgamento do que é bom e mal, não perante Deus, mas perante a si memo. Agora a racionalização de si mesmo e de Deus é inevitável.

Vejamos que o primeiro fruto do julgamento humano após a queda foi perceber sua nudez. E ele julgou esta nudez como algo mal, por isso, coseu as folhas de figueira como vestimenta. Este primeiro uso do seu conhecimento do que é bom ou mal segundo seu julgamento, entra em contradição direta com o que Deus julga ser bom ou mal para Ele. Pois Deus criou o homem nu, e este estado estava dentro da categoria do que Deus considerou boa como criação.

E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. E foi a tarde e a manhã, o dia sexto”. Gn 1:31.
Esta é uma afirmação de que tudo o que Ele cria é bom.


  E ambos estavam nus, o homem e sua mulher; e não se envergonhavam” Gn 2:25
Este é o estado em que o homem foi criado, nu e ainda não achava isso um mal.

Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; pelo que coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.     E, ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o homem e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. Mas chamou o Senhor Deus ao homem, e perguntou-lhe: Onde estás? Respondeu-lhe o homem: Ouvi a tua voz no jardim e tive medo, porque estava nu; e escondi-me”.Gn 3:6-10.

Aquilo que Deus dissera que era bom, o homem diz agora que é mal. Aqui começa a contradição da vontade do homem em detrimento da vontade de Deus. Instalou-se a rebelião. O abismo que separa Deus do homem é aberto por este segundo. Sendo que, a partir de agora o homem buscara criar artifícios que lhe possam religar com Deus, mesmo que de forma inconsciente, porém sem sucesso.


No anti-fluxo da cultura legalista

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